Phǽiderộn_CANÇÃO DO AMANHECER - 2016

02-01-2016 15:35

Prólogo

 

 

Numa fase de exploração muito tosca do cosmo, astrônomos e astrofísicos com suas cartas estelares, às vezes se metiam em tremendos debates sobre a ordem e a classificação dos planetas, cometas, asteroides, etc. Uma dessas situações gerou um conflito de disposição astronômica quanto a ordem planetária da Terra. Uns astrônomos classificavam-no como sendo o terceiro planeta dentro da organização, outros já contestavam esse estudo, mas na realidade não era aquilo estabelecido pelas cartas estelares oficialmente escritas, mas o sistema ao qual pertencia é que era tríplice, ocasionando pela (com)fusão entre a Galáxia Alenas, a Constelação de Amphor, a qual pertencia o planeta, e a Supernova de Oller que se distendera em sua massa lateral atraída por um Buraco Negro, chupada numa formação conífera e se fundindo naquele estranho canibalismo sidéreo.

Visto a olho nu, estando no proprio planeta, da Terra observavam-se dois longínquos pontos brilhantes a se destacarem no firmamento, então os ilustres estudiosos bateram o martelo, e assim ficou entendido e indicado. De resto, o mais próximo suposto planeta a ser observado com poderosas lentes, encontrava-se perdido no meio do cinturão de asteroides que lhe dava o nome: Luxxor. 

Mas a historia da Terra vem de muito antes de ser reconhecida como planeta habitável e propriamente considerado em condições adequadas para receber vida animal de quaisquer espécies. Conta-se que durante muito tempo o planeta foi usado apenas como lixeira de insumos, dejetos e experimentos cinéticos degradáveis. E não se sabe o porquê de uma hora para outra, o planeta ferruginoso passou a constar como rota de referencia significativa de navegação para alguns comandantes. De início o planeta era apenas observado a distancia por criaturas muito sinistras do interior de suas naves de aspectos estranhos; mas em curto espaço de tempo, grandes naves passaram a traçar suas rotas próximas a atmosfera, enquanto outras desciam ou pairavam sorrateiramente sobre a superfície, apenas para descarregar suas experiências malfadadas. Quanto a isso dava para perceber o resultado das magníficas explosões e reações fotônicas espetaculares que refletiam nas alturas. Tudo durou bastante tempo, até que das profundezas do planeta vindo das infiltrações e rachaduras resultantes de tais experimentos, começou a jorrar e borbulhar algo gelatinoso que, em contato com o ar, tornava-se líquido e que foi se avolumando e tomando grande parte do solo... Por milhares de séculos o planeta passou por transformações geológicas e atmosféricas... A superfície de massa vulcânica se dividiu em dois elementos distintos e encerrou as atividades vulcânicas com o resfriamento da superfície. Deu-se então o principio do nascimento de um biossistema bastante primitivo e estéril. Essas mudanças devem ter sido o "start" para uma nova fase de exploração a tanto esperada, pois as primeiras naves monstruosas que aportaram vindas do espaço exterior através de um salto temporal plainaram diretamente sobre as águas amarronzadas e límpidas do oceano; enquanto se movia lentamente para frente, comportas ventrais se abriam e centenas de seres anfíbios pulavam para a água. Outras naves menores se aprofundaram até o leito dos mares descarregando diversos materiais para a construção de bases militares. Tempos depois iniciaram exercícios rotineiros com suas armas hidrotérmicas. Enquanto isso, enormes prédios vitrificados num estilo bem avançado, que mais  pareciam aquários ovais estavam sendo erguidos conjuntamente na superfície, longe da zona militar. Todos interligados por um sistema interminável de túneis e intrincáveis dutos tubulares gigantescos pelos quais serviam de comunicação entre todo o complexo. Pelo trabalho esmerado das construções e a metodologia organizacional elaborado por eles, dava a nítida impressão de que finalmente aquelas criaturas haviam encontrado o lugar ideal para se estabelecerem e perpetuar sua espécie por gerações e gerações. Percebia-se isso também devido às grandes fazendas marítimas ao largo dos prédios, onde se viam grandes gaiolas carregadas de crustáceos e outros animais do mar, alem de redes texturizadas recheadas de moluscos gosmentos. Por mais de três séculos o planeta foi completamente dominado por aquelas criaturas... Até que um dia, num belo entardecer, o Serviço de Comunicação do Alto Comando Militar, detectou o sinal de um objeto descomunal se aproximando rapidamente da fronteira do exterior do planeta, com rota traçada diretamente para Terra. E não se passaram nem três rotações planetárias quando a nave surgiu no subespaço do planeta. Um alarme de alerta, mais parecendo um animal ferido soou pela superfície e nas regiões submersas, gerando um alvoroço jamais visto; mas não foi por causa das sirenes, mas pela identificação do objeto: Nave-Mãe — Classe Colônia.

A sua aproximação ocorreu lentamente e, aos poucos o seu diâmetro foi ocupando parte da extensão do horizonte, chegando a esconder as estrelas do alvorecer, tal a sua grandeza. A sua presença causou uma agitação incomum àquelas criaturas tão centradas em tudo o que faziam. Depois, a informação do resgate da colônia perdida não foi aquilo esperado por eles. O líder Supremo exigia que todos, sem exceção, retomassem imediatamente aos procedimentos inicialmente programados, e nem a ordem chegou aos confins da Terra quando grupos organizados começaram as desmontagens de toda a parafernália que por anos a fio haviam construído. E foi assim que aconteceu por todo o planeta: em oito estações climáticas lunares e solares, as criaturas juntaram tudo o que possuíam e partiram em desembalada carreira, como se aquele mundo onde viveram por muitos séculos não servisse mais aos seus propósitos ou, como se de repente, ali fosse romper uma praga mortal que exterminaria com tudo.

Nada, mais nada mesmo, foi largado para trás, equipamentos, veículos, maquinarias... Tudo, tudo se evaporou como se nunca houvesse existido. Talvez a única comprovação marcante e silenciosa deixada por eles do resquício da colonização, foram as gigantescas construções espelhadas que refletiam a degradação acontecida por quase um milênio naquele planeta morto que vagava entre as efemérides orbitais e, cujos moradores efetivos eram as corrosivas larvas endriônicas ectoplasmaticas nascidas naquele ambiente híbrido dos dejetos no fundo do mar.

 

 *****

 

Mas tudo isso foi ha milhões e milhões de eras num passado muito remoto. Naquele tempo a queda da sonda não passou despercebida para o centro de controle espacial em outra dimensão muito distante dali. Dezenas de imagens tridimensionais eram visualizadas de diversos ângulos no holograma do infográfico, no qual flutuavam caracteres alienígenas, enquanto aparecia a figura de um ser antropoide girando sobre si mesma... Duas linhas perpendiculares horizontais se iniciavam num mesmo ponto de partida e separavam-se mais adiante. O traçado original estava marcado em cor prateada e a outra linha, em pontinhos ovalados alaranjados, pendia mais para a esquerda sendo cortada por dinâmicos diagramas coloridos. Todo o painel piscava de modo alucinante. Alguns cientistas e técnicos observavam curiosos as linhas demarcadas, enquanto uns manipulavam estranhos aparelhos, outros mais agitados confabulavam e gesticulavam entre si, sobre aquela situação.

A entrada repentina de uma mulher de tez negra no ambiente fez todos paralisarem o que estavam fazendo e se fixarem nela. Imediatamente, de um canto do salão houve uma movimentação apressada e a Dra. Twÿilla reconheceu imediatamente o responsável por toda aquela operação, o técnico lyruniano que parecia vir se arrastando. O ser de Lyr possuía um aspecto bem peculiar, pés grandes e arredondados um corpo avantajado e do rosto saia uma pequena tromba que transformava as palavras quase num chiado.

— Doutora Twÿilla, a nave saiu do plano transverso, do planeta artificial Alaurigae... — alertou o técnico lyruniano. —... Deveria seguir para o transverso... a rota programada.

Doutora Twÿilla apenas observou ao redor, e seus imensos olhos verdes claros e brilhantes se alongaram fixando no infográfico mais adiante, analisando as informações que passavam ligeiras. Havia uma mobilidade hipnótica diante a sua presença. Notava-se isso pelos olhares fixos nela.

—... foi desviada da rota por algum fator inexplicável e caiu num planeta desconhecido entre o antiverso e o reverso... — concluiu o técnico.

Um grupo de técnicos se aproximou dando outras explicações. Falavam em vários idiomas e apontava para o painel colorido com luzes intermitentes. Ela escutava a todos com atenção, tinha o semblante tranquilo, ar despreocupado. Inteirava-se apenas das ocorrências:

"— Queremos uma orientação de como deveremos prosseguir. — indagou um dos técnicos olhando para ela e para os demais.

Naquele momento ela não faria nada. Esboçou um ligeiro sorriso quase imperceptível. Ergueu as sobrancelhas olhando para os técnicos atônitos, que logo se acalmaram. Foi como se tivessem recebido uma mensagem telepática. Depois, desviou rosto para o écran e seu olhar foi seguindo o traçado em vermelho. Sua mente atravessava os pontos que piscavam e interagia com a massa cósmica... O pluriuniverso Dhox nunca lhe pareceu tão sem motivos, e o acaso era uma das façanhas mais surpreendentes que poderia intuir. A nave se encontrava perdida no Pindorama, num plano tridimensional inflacionário bastante suscetível, cuja energia temporal possuía um campo sutil de extensa vulnerabilidade. Se era ali que a sonda deveria estar... Então lá ficaria.

 

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